PRÓLOGO A peça ainda não começou. Molière e sua trupe se agitam em cena. (Quase um balé do palco sendo arrumado.) Montam o palco, acendem as velas dos candelabros etc.
MOLIÈRE: Vamos, senhores! Estamos atrasados. Ah, como ator é um bicho difícil de comandar.
ATRIZ QUE FAZ LUCILE: (Ensaiando) De onde vem o veneno que invadiu minha alma...
MOLIÈRE: (Para Lucile) Mais devagar. (Grita para outro ator) Mais rápido, o rei já deve estar chegando e não tem nada pronto ainda.
Lucile vai encontrar Cléonte.
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: A culpa é sua. Você prometeu aprontar uma peça em oito dias e agora vai nos matar de vergonha diante da corte.
MOLIÈRE: O que é que eu podia fazer se o próprio rei me fez essa encomenda! O que os reis querem acima de tudo é uma pronta obediência. É melhor cumprir mal o que nos pedem do que não cumpri-lo a tempo!
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Eu não vou conseguir decorar esse texto.
MOLIÈRE: Grande coisa, decorar um texto.
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Para você é fácil. Foi você que escreveu a peça.
MOLIÈRE: Estou escrevendo. Ainda não sei como terminá-la.
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Como qualquer comédia: os amantes se casam e todos dançam numa grande festa.
MOLIÈRE: Não quero apresentar para o rei uma comédia qualquer. Lucile!
Lucile volta.
ATRIZ QUE FAZ LUCILE: De onde vem o veneno que invadiu minha alma /
E fustigou meu corpo, retirou-me a paz?
MOLIÈRE: Não é nada disso. Você está apaixonada...
ATRIZ QUE FAZ LUCILE: (Olhando para Cléonte, por trás de Molière). Estou.
MOLIÈRE: Você nunca sentiu isso antes... ATRIZ QUE FAZ LUCILE: Nunca.
MOLIÈRE: Você está muito feliz...
ATRIZ QUE FAZ LUCILE: Muito.
MOLIÈRE: (Para Cléonte) Vem cá, rapaz.
ATOR QUE FAZ CLÉONTE: Sim, senhor.
MOLIÈRE: Recite seu papel.
ATOR QUE FAZ CLÉONTE: Bem, senhor...
MOLIÈRE: Está errado.
ATOR QUE FAZ CLÉONTE: Mas é que...
MOLIÈRE: Não confere...
ATOR QUE FAZ CLÉONTE: A verdade...
MOLIÈRE: A verdade é que em vez de estudar seu texto você fica representando para as mocinhas.
ATOR QUE FAZ CLÉONTE: Não diga isso, senhor. Nada é mais sincero que meu amor por Lucile. Tão grande que chego a desejar que o céu não lhe tivesse dado nada ao nascer: nem beleza, nem fortuna, nada, para que eu dedicasse toda a minha vida a reparar essa injustiça do destino, e assim merecer a glória e a alegria de vê-la dever tudo ao meu amor.
MOLIÈRE: Muito bem. Você já decorou seu papel.
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Pouco a pouco eu...
ATOR QUE FAZ COVIELLE: Por favorr, senhorr Molière...
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Pouco a pouco eu...
MOLIÈRE: Eu vejo!
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Pouco a pouco eu vejo...
ATOR QUE FAZ COVIELLE: Con fossa permision...
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: Pouco a pouco eu vejo...
MOLIÈRE: ... que estou comprometendo cada vez mais...
ATRIZ QUE FAZ DORIMÈNE: ... com os testemunhos da sua paixão.
ATOR QUE FAZ COVIELLE: Gostarria falar assunto de sua interresse.
MOLIÈRE: E por que você está falando com sotaque alemão?
ATOR QUE FAZ COVIELLE: É que pensei o senhorr precissar talvez de alemon parra fazer papel de alemon em peça autorria sua.
MOLIÈRE: Nada de alemão. Você vai fazer o criado como sempre. (Grita) E já que você vai fazer o criado aproveite para arrumar o palco que já estamos atrasadíssimos. [...]
Molière. O burguês ridículo. Trad. José Almino. Adap. Guel Arraes e João Falcão.
Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996. p. 17-22.
1) Como você imagina a movimentação dos atores no início da peça? O que a justifica?
2) O texto que vai ser encenado é uma comédia.
a) Que dificuldade o autor está enfrentando em sua composição?
b) Segundo a atriz que faz Dorimène, não seria difícil criar um desfecho para a peça. Por quê?
c) A fala da atriz alude à principal característica dos finais das comédias. Qual é ela?
3) Releia a segunda fala de Molière (linhas 7 e 8).
a) Como se explica que Molière peça a Lucile que vá devagar e ao outro ator que vá depressa?
b) Use a fala de Molière para explicar a ideia de que no texto teatral a história não é contada por um narrador, mas mostrada.
4) Releia o trecho das linhas 23 a 46.
a) A primeira fala é da atriz que faz Lucile ou da personagem Lucile?E as demais falas? Justifique essa distinção.
b) Nessa passagem, Molière se refere aos sentimentos da atriz que faz Lucile ou aos da personagem Lucile? Explique.
c) Releia a fala da linha 41. Quando o ator diz “nada é mais sincero que meu amor por Lucile”, está falando de seus sentimentos pessoais ou assumindo seu personagem Cléonte? Justifique
PRÓLOGO A peça ainda não começou. Molière e sua trupe se agitam em cena. (Quase um balé do palco sendo
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