A seguir, você poderá conhecer um trecho do relato das experiências vividas por Amyr Klink. A história é sobre sua travessia com mais de 3 500 milhas (cerca de 6 500 quilômetros), desde o porto Lüderitz, no sul da África, até a praia da Espera no litoral baiano, a bordo de um minúsculo barco a remo. Partir [...] “Boa sorte, homem!” Agradeci em silêncio. Aos poucos o cais foi diminuindo, fundindo-se com os contornos áridos das dunas que cercam a cidade. Passamos a última boia de indicação do porto, com sua luzinha vermelha e o eterno bater do sino que orienta os pesqueiros perdidos na neblina. O dia começou a nascer, envolto em uma neblina baixa que fazia as altas dunas do deserto parecerem nuvens sobre o horizonte. Focas e golfinhos surgiram brincando em torno do barco e, ao dobrar Dias Point e Halifax Island, onde vive uma simpática colônia de pinguins, o mar subitamente mudou. O vento forte e as ondas formadas anunciavam o limite das águas abrigadas da Baía de Luderitz, o oceano livre pela frente. [...] Começou, então a despedida da tripulação do StormVogel. Catastrófica despedida. Eu havia esquecido meu casaco vermelho e uma máquina fotográfica no veleiro, antes de deixar o porto, e pedi aos berros, por causa do vento que não parava de aumentar, que me passassem o material. Com o mar cada vez mais agitado, uma aproximação tornava-se tarefa delicada. [...] Com o veleiro adernado pelo vento, sem ângulo de visão e em grande velocidade, o comandante errou a manobra e veio exatamente em cima de mim. Proa com proa, um choque tremendo, pensei que fosse afundar. Todas as coisas soltas dentro do barco voaram, e a antena de rádio, instalada do lado de fora, partiu-se ao meio e caiu na água. [...] Estava apavorado. O cockpit cheio de água, as ondas arrebentando, um frio tremendo, e a antena principal perdida. Meu Deus, que começo! Descontrolada com a força do vento, com velas panejando e escotas voando, a tripulação resolveu mudar de tática e, agora com o vento a favor, avançou de novo em minha direção. Fiquei histérico, não queria mais o casaco nem coisa alguma. Queria que fossem embora, aquilo estava perigoso demais![...] KLINK, Amyr. Cem dias entre céu e mar. 3. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 19-20. O texto que você acabou de ler apresenta características de A reportagem. B biografia. C relato de viagem. D crônica jornalística.